O que aconteceu ontem em um terço do território nacional, abrangendo 11 Estados e o Distrito Federal, no Centro-Oeste e Sudeste, ameaça ser um ensaio do que poderá vir a se repetir no Brasil. É possível que o apagão tenha relação com uma falha na linha de transmissão da energia do Norte e Nordeste para as áreas afetadas, falha ainda não identificada ou não explicada pelos seus operadores. Mas não há dúvida que, em certo momento, de pique de demanda, a energia gerada não foi suficiente para atender o consumo.

A obviedade é visível a olho nu e raciocínio elementar: as concessionárias de energia receberam ordem do ONS (o Operador Nacional do Sistema Elétrico) para reduzir a geração. O blecaute foi administrado pelo órgão central de todo o sistema integrado nacional. Cada setor recebeu sua cota de racionamento.

Conforme o relatório divulgado hoje pelo ONS, o consumo de energia nas regiões prejudicadas bateu o recorde uns 20 minutos antes do corte de luz, que durou pelo menos uma hora. A carga recorde ocorreu provavelmente devido ao intenso calor registrado no Sudeste pouco depois das duas e meia da tarde de ontem. A demanda nas duas regiões chegou a 51.596 megawatts, superando o pico anterior, que foi em 13 de janeiro, de 51.295 MW.

Além do crescimento do consumo, o ONS diz que houve “restrições na transferência de energia das regiões Norte e Nordeste para o Sudeste”, que, “aliadas à elevação da demanda no horário de pico, provocaram a redução na frequência elétrica”. Não esclareceu se as restrições decorreram de fatores naturais acidentais ou de falha no sistema.

A segunda hipótese parece mais provável, já que o Norte, o Nordeste e o Sul, onde os reservatórios das hidrelétricas estavam em níveis satisfatórios, não tiveram problemas. Deixaram de repassar energia para as outras regiões porque receberam ordens para isso. O racionamento (que é o nome real da medida) atingiu 3 mil MW, o correspondente a 8% da produção de energia do país.

Não foi, portanto, uma situação tranquila. E sem mudança das variáveis atuais, é previsível que os mesmos problemas venham a se repetir – agravados.

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Lúcio Flávio Pinto

He has been a professional journalist since 1966. He has worked in the newsrooms of some of the main publications in the Brazilian press.

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